quinta-feira, 2 de junho de 2011

"Justiça Histórica" - Minha prova oral da 40ª Ciranda (Regional)

Fuçando no pc, hehe, achei minha prova oral do concurso da Região, que ficou engavetada na época pois disseram que eu peguei "pesado" demais e me "orientaram" que não o publicasse em lugar nenhum, pra ver se as pessoas esqueciam dele até a Ciranda estadual. 

Virou e mexeu, eu guardei arquivadinha, pois eu também sou uma moça obediente!!! Quando algo pode vir atingir a mim, tou na banda, hehehe! Mas se pode interferir em mais algo ou alguém, nem pensar ;)

Penso que não há mais motivo para isso. Acredito MESMO em tudo que eu disse e resolvi arriscar em falar em voz alta no meio da Ciranda Regional de 2009. Eita saudade...

Fiz a transcrição da prova e aqui ela está. Sim, transcrição, pois eu acho que decorar 8 minutos de texto pra uma prova oral de 10 minutos e deixar uns 2 minutinhos pra falar do tema, é uma coisa que não tem fundamento. 

Se o tema é sorteado, deve ser pra inibir o caso dos discursos decorebas. Não é o que nós vemos por aí...

Bom, este foi o meu "discurso". Com algumas gaguejadas, com pausas reflexivas, hehe, palavras repetitivas e tudo mais... Mas mesmo assim, confesso que me orgulho dele. Com suas falhas de oratória, foi um discurso honesto, sincero e natural. Bom, foi honesto e sincero, de minha parte. Natural pois foi o que "fluiu" na hora! Pelo menos eu acho assim =)

Lá vai...

“Quisera Deus semear a beleza do campo na alma do homem, pra ver florescer a virtude com a simplicidade que a arte resume.”


Nada melhor do que começarmos uma prova artística do que falando em Arte, que esta canção belíssima e perfeitamente interpretada por estes fantásticos músicos nos diz. Esta canção de Ângelo Franco.

Meu boa tarde, sou Tainá Severo Valenzuela, e tenho o prazer de representar nesta 40ª Ciranda Cultural de Prendas, meu querido Departamento de Tradições Gaúchas Noel Guarany, e ainda mais orgulhosa de trazer para esta tarde a presença da Universidade Federal de Santa Maria a quem eu represento através deste DTG.

Sorteei um tema que me deixou bastante feliz: “O Gaúcho e suas Façanhas”. Um pouco suspeita por ser acadêmica do curso de História, mas fiquei bastante feliz por poder trazer nesta tarde um tema que eu tenho estudado desde o início do meu curso superior.

O gaúcho e suas façanhas... (Não exatamente, mas) É o tema selecionado pelo MTG para o desfile deste ano do dia 20, e eu confesso que fiquei um pouco entristecida quando vi a descrição da temática, porque essas façanhas que são citadas são façanhas de homens, ricos, estancieiros. São homens com sua importância, sua relevância, fundamental, com certeza, na história deste Estado, porém, quem são os gaúchos? O gaúcho e suas façanhas. Quais são essas façanhas?

Quando falamos em gaúchos, nós não podemos nos dar o direito de excluirmos desta história o negro, o pobre, a mulher. Porque as façanhas não são das gaúchas, de repente?

Observando o tema para o desfile deste ano, vi que são muito bem pontuadas as temáticas com relação à façanhas dos nossos generais, em grande maioria, dos líderes do Movimento Farroupilha.

Porém porque não falamos da força dos nossos Lanceiros Negros, que mesmo sendo torturados no Rio Grande do Sul (porque, infelizmente, alguns acreditam que a escravidão no Rio Grande do Sul foi mais branda, mas as últimas pesquisas comprovam que isso não é verdade)... Porque que nós não lembramos deste escravo, que mesmo reprimido, açoitado, sofrendo, foi lá e defendeu uma causa que não era dele... Era uma causa da elite, em grande maioria, que foi defendida por estes homens.

Quando falamos das façanhas dos gaúchos, porque não falamos das façanhas dos peões pobres que morreram em campos de batalha, defendendo uma causa que, era deles, também, mas não apenas deles?

Porque não falamos das nossas Vivandeiras quando falamos em façanhas? As prostitutas do Rio Grande do Sul. Porque elas acampavam em campos de batalha, elas pegavam em armas, elas lutavam, elas morreram. Onde estão as façanhas das Vivandeiras?

É muito pouco observado isso na história do Estado.

Onde estão as façanhas das Estancieiras, que ainda é uma temática um pouco mais abordada, mas elas mantiveram a economia de um Estado inteiro enquanto os homens estavam em guerra. Onde estão as nossas estancieiras? Elas não foram apenas mães, não foram apenas esposas, não foram apenas coadjuvantes nesse processo. Foram atuantes, foram protagonistas. 

E porque quando falamos em façanhas nós lembramos do homem, e nós lembramos dos nossos generais, em grande maioria? E cito não apenas a Revolução Farroupilha porque o tema abrange o gaúcho em geral e não define o momento histórico, mas então pensemos nas façanhas, se são tão lembradas, por exemplo, as façanhas de Honório Lemes, em 1923, que desenhou a Serra do Caverá pra manter suas tropas protegidas?

A fixação... Além desta fixação na Revolução Farroupilha, me entristece observar que existem outros períodos históricos, de pessoas que lutaram tanto quanto, que morreram, que doaram suas vidas, que doaram suas propriedades por uma causa, e elas são esquecida.

Eu chamo isso, particularmente, de justiça histórica, porque eu não acho justo nós ignorarmos tantos personagens relevantes pro Estado em função de uma minoria, uma minoria elitizada.

E quando eu falo isso, trago pro momento presente, para pensarmos que, se no futuro, vamos supor, forem fazer a história do Movimento Tradicionalista Gaúcho, quem estará nesta história? Seremos nós? Será que farão conosco a mesma injustiça que muitas vezes nós fazemos com os nossos antepassados?

Será que ao falarem da história do Movimento Tradicionalista Gaúcho, estarão falando de nós que estamos aqui concorrendo, dos senhores e das senhoras que estão aqui hoje assistindo esta Ciranda? Ou será que citaremos o nome dos Presidentes do MTG? O nome dos Conselheiros do MTG? O nome de alguns Coordenadores Regionais?

Nós não temos o direito de fazer com o passado a injustiça que nós não queremos que o futuro faça com a gente.

Nós somos o Movimento Tradicionalista Gaúcho. Nós lutamos por ele. E muitos homens que são anônimos também lutaram por este Estado onde nós vivemos hoje.

E encerro minha temática da prova oral citando um pequeno trecho de uma canção que foi dançada pelo grupo Tebanos do Igaí, que ela diz:

“Quem sabe um dia, meu irmão, quem dera, meu povo aqui do Sul possa de novo levantar bandeiras, fazer nova história... E que o futuro possa se orgulhar de nós.”

Para o momento da prova oral, era isso que eu tinha para dizer para os senhores...


>>> Bom, apesar do "risco", no final deu tudo certo!! 
A melhor comemoração é sempre com vocês, meus irmãos Guaranys...


Um comentário:

  1. Parabéns Prenda! eu particularmente não acho um tema que fere algum princípio tradicionalista. `Há alguns anos atrás teve um tema da semana farroupilha que foi sobre "O Soldado" e muito bem abordou essa questão que tu disseste, sobre os heróis anônimos. Não são pessoas no tradicionalismo que idolatram poucos, mas sim toda a sociedade sul-riograndense. Mas alguns poucos sabem a real história da Revolução Farroupilha que não é só o heroísmo que presenciamos, muitos morreram em nome de poucos estancieiros que defendiam nada mais do que seus próprios interesses alegando que fossem de um bem comum.
    Concordo que deveríamos sim não só na semana farroupilha mas em qlqr outra data reverenciar, os soldados, as mulheres, os pobres, os negros porque TODOS eles foram responsáveis pela luta por um Rio Grande Melhor!


    Parabéns pelo blog tbm! se quiseer dar uma passadinha no meu e divulgá-lo... hehe

    www.nodia-a-dia.blogspot.com

    beijos
    Kelem

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