Croniquinhas.

DA DECEPÇÃO


As pessoas, um dia, irão te decepcionar.
Sim, meu caro. Mas esta é uma verdade mergulhada em uma farsa.
Poucos são os que nos decepcionam.
A maioria apenas não atende as expectativas que nós mesmos criamos sobre ela.


O AMOR não SUPERA TUDO

Ai meul Deuls, lê esta frase e achas que tu deve me matar.
Problema é teu.

O amor não supera tudo, minhas amiguinhas e amiguinhos.

Olha o tamanho da responsabilidade do coitado. Suportar TUDO.

É uma frase prática, pois se der merda, tu vais aproveitar pra tirar a culpa que tu tens - e o respectivo/a respectiva também, e a culpa é do pobre do amor, que não era de verdade, não era forte, não era pra ser.

Não era o caramba...

O amor é um sentimento, abstrato em sua forma porém muito real em sua vivência. E ele é o que une duas pessoas que, por se amarem, pensam em trilhar os rumos da vida juntos.

Mas um relacionamento não vive só de amor.
- O que é então, Tainá? Um bom sexo? Dinheiro?
Mimimi, também não. Tudo são partes.

O que suporta tudo, o que faz um relacionamento viver é, justamente, a forma de se relacionar.

- Aff, que chato.

Chato o caramba, mon amour. (Sim, a expressão do dia é "o caramba").

Ou você está disposta/o a abrir mão de alguns caprichos seus pra viver uma vida com mais alguém, ou vai morrer sozinho/a e estressado/a.

Primeiro de tudo: Respeito.
Tem gente que se xinga, se morde, se bate. E não de brincadeirinha.
Que diabo de amor você acha que tem que suportar xingamentos, ironias, péssima convivência? O amor tem que suportar alguém que te mande à merda? O amor tem que aguentar alguém que ri de ti? O amor tem que superar a dor de alguém que te trai?

Não, meus queridos, não tem. Ele - o amor - não tem culpa se você acha que pode dizer o que quiser e ouvir o que não quer.

Segundo: Confiança.
Ou tu escolhe alguém em quem você confiar ou, novamente, vai morrer na solidão e no estresse. Se tu desconfia até da tua sombra... Te trata. Ninguém merece ficar contigo mesmo, não dê pra ninguém este fardo.

Terceiro: Cuidado, zelo.
Cuide de quem tu tens por perto. Cuide do que a pessoa sente, cuide do que tu sente, cuide das coisas que são importantes para o outro, fale do que é importante pra ti.

Isso é um resumo muito do resumido, só pra pararem com essa frescura de que o coitado do amor tem que superar tudo. Se ele não for cuidado e alimentado, ele não suporta nada e nem tem que suportar. E pode ter sido amor de verdade sim, mesmo que acabe... Enquanto os dois souberam ser bons um para o outro, era amor. Agora se o comodismo os fez destruir o que tinham de bonito, não há amor que sobreviva mesmo.

Esse papo de "amor é uma vez na vida"... Psssss, frescura! Será amor quantas vezes tu quiseres amar. Será DURADOURO na vez em que tu tiveres atitudes dignas de fazer o amor viver - e o outro/a também. A hora que tu puderes ser autêntico e vice-versa. Abrir mão de caprichos não é ser outra pessoa. É adaptar a sua individualidade à individualidade de outra pessoa.

O amor, esse abstrato, é que nem gente, é que nem cachorro. 
Sem alimentar, morre. 
Sem carinho, entristece. 
Sem distração, estresse.
Sem cuidado, adoece. 

O amor te faz querer superar, isso sim.
Enfrentar e aguentar, depende da sua escolha de como fazer pra cuidar dele.

>>> Motivo do texto: faltam 10 dias. 
Até aqui, superamos.
Nós 3 juntos: eu, ele e o amor.





A CRÔNICA DA LEGGING


É verão. Você acorda logo após 6h e já sabe que o dia promete. Nenhuma nuvem no céu e o mormaço já vem pegando. 

Seu trabalho - ou o local pra onde você vai - não permite que você use algum dos adoráveis vestidos que vertem do seu guarda-roupas por causa daqueles detalhes sutis como o decote que para logo ali no umbigo ou o comprimento, que faz com que sentar seja também protagonizar uma cena de nudez.

Você revira seu o armário e encontra, enfim, uma blusa plausível com a ocasião e suportável perante o calor. Ela é o tipo fresh. Não é curta e nem comprida. Mas acompanhá-la de uma calça jeans parece o look da porta do inferno - você já se imagina colada na calça como se estivesse sendo mumificada (no inferno). 

Mais uma revirada no armário e eis que surge, caída pro fundo e escondida entre as demais peças, a sua confortabilíssima legging preta! Ela sorri pra você e o ambiente se ilumina. Você não entende como pode uma peça tão maravilhosamente confortável ter ficado esquecida naquele canto do guarda roupa por tanto tempo. Teria sido tão útil!

Ela lhe veste como uma luva, os movimentos são livres e você se sente radiante. Sai de casa, 7h. Sol das 6h né, horário de verão.

A manhã transcorre na santa paz e no sublime conforto.

Meio dia.

Você sai pra almoçar, ou pro próximo compromisso. Não importa, você sai. Importante é que você sai feliz e confortável.

Na rua está caminhando à sua frente uma mulher. O sol lhe bate às costas e faz ver nela todos os detalhes celutíticos e estriosos da sua bunda. Você ri, internamente, se sente um ser superior e pensa se ela não se dá conta da situação vergonhosa que ela passa por ter aquele corpo e usar aquela leg... CÉUS! SUA BUNDA! Você lembra que não tem a bunda torneada e se dá conta que o sol está batendo nas costas dela assim como na sua. 

O desespero toma conta de você. Você lembra de todas as cenas deprimentes que vive quando está de costas pro espelho e se contorce feito um cachorro que tenta pegar o rabo pra poder enxergar a tristeza que é a sua própria bunda (sabemos que mesmo que você possa vir a ter uma bunda bonitinha você vai achá-la triste - menos se você for uma marombada, claro, afinal marombada não tem bunda, tem glúteo, é outro patamar -).

Tudo que você quer é uma sombra. Mas as marquises não serão suficientes para lhe proteger neste longo e tortuoso caminho de duas quadras. Você precisa chegar. Sem correr, claro, senão além da celulite, a flacidez irá sair gritando de dentro de você, com a cara pro sol.

Você olha discretamente para trás. E quem, quem está ali, na mira da sua bunda celulitosa tal qual você está para a mulher da frente? OUTRA MULHER! (Se for um cara, menos pior, ele não vai reparar e periga até te achar gostosa). E ELA ESTÁ DE JEANS, ela não está em situação de desespero como você! Ela pode olhar e rir da sua bunda sem se preocupar com a dela, coisa que você também estaria fazendo com a mulher da frente se não fosse a sua própria desgraça!!

Você não tem solução. Você segue seus passos sofrendo profundamente e em silêncio. Um silêncio molengo e celulitoso como sua bunda. Sim, era por isso que a legging da desgraça estava naquele canto do armário, pra ficar longe do alcance das suas mãos e da sua bunda! Pra você parar com a ideia fresca e idiota de querer ficar confortável!!

Você chega. Chega e agradece a existência de ambientes cobertos e das inúmeras possibilidades que terá de disfarçar sua infelicidade mole sentada em algum lugar ou de costas pra parede. Passa o dia todo pensando que aquele inferno de legging só pode ser usada com sua sobre-legging-tipo-bata que vai até perto da sua patela e que quando você usa as pessoas ficam em dúvida se você está grávida ou gorda, MAS PELO MENOS NÃO FICAM OLHANDO PRA SUA BUNDA!

Fim de tarde, hora de ir pra casa tirar aquele peça de roupa que você nunca deveria ter vestido. O sol está baixando e você já sabia que essa hora ia chegar: A HORA EM QUE O ÂNGULO DO SOL IRÁ DAR DIRETO EM SUA BUNDA FLÁCIDA, CELULITOSA, ESTRIENTA E RIDÍCULA COMO VOCÊ! Sim, nessa hora você já se odeia por sua burrice de não ter lembrado o porquê a legging estava escondida, por causa do seu mau gosto em ter comprado aquela coisa e pela sua falta de capacidade de malhar o seu GLÚTEO para que PELO MENOS ELE fosse marombado na sua vida.

Não adianta. A tortura se repete. Você já está conformada com a situação que está passando. Já imagina milhares de pessoas olhando e rindo, pensando "a-ha, olha aquele loca... Será que não se deu conta de não usar isso aí?". E são milhares e milhares de pessoas que estarão vendo, em cada movimento seu, aquela celulite grotesca se espremer contra as outras, se abraçando em uma estria, no meio de toda aquela gelatina = sua bunda.

Você chega em casa, coloca o troço (a legging) na máquina, e se odeia por ter permitido que a cidade toda (óbvio que a cidade toda viu!) visse sua bunda daquela forma. Depois de estendida e seca, você joga ela no fundo do guarda-roupas pra que nunca mais chegue perto daquele diabo disfarçado de suplex, que só irá compor seu look de ficar em casa, domingo, no inverno, com chuva, e de preferência com aquela 'sobre-tipo-bata' que cobre até a sua esperança e mais uns 19 moletons. E polainas.

Os dias passam, as semanas seguem, o verão continua, o calor também.

Em algumas manhãs você acorda e sabe que o calor irá te perseguir, e que se você não pode ficar fresh, você quer pelo menos ficar confortável. Você revira seu o armário e encontra, enfim, uma blusa plausível com o calor e eis que surge, caída entre as demais, a sua confortabilíssima legging preta! Ela sorri pra você e o ambiente se ilumina.

Ela lhe veste como uma luva...

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