sexta-feira, 3 de agosto de 2012

"As marcas Espanholas no RS"

Esta foi a pesquisa que apresentei à Comissão Avaliadora em minha prova artística na 40ª Ciranda Cultural de Prendas - Fase Estadual. Mantive, para a postagem, o texto original, assim como enviei. Aqui, falo apenas de algumas "marcas". O texto é maior, a pesquisa é extensa. Mas resumi para poder entregá-lo que forma compacta para a Comissão. Estas MARCAS que cito aqui são apenas algumas das coisas das quais o Movimnto Tradicionalista Gaúcho ACEITA a influência espanhola. Mas tem muito mais... 

Ah, e obrigada à todos que sempre me disseram que esta prova marcou aquela Ciranda! Isso vale muito! Beijos, Tainá.


Apresentação Para a prova Artística da 40ª Ciranda Cultural de Prendas – Fase Estadual, a temática escolhida fora “As marcas espanholas no Rio Grande do Sul” pelas seguintes razões:

 • Ser uma influência cultural no RS de forma bastante expressiva;

 • Revitalizar a influência espanhola, por serem justamente os espanhóis a primeira etnia estrangeira em Santa Maria e ter aqui um de seus abrigos.

 • Usar esta influência como uma das marcas da multicultural região de Santa Maria, receptora de distintas fontes de cultura, aqui mescladas e produzidas.

• Ter tido um contorno histórico similar ao de minha família Valenzuela, ou seja, originária da Espanha, vêm para a América pelo Rio da Prata e se aloja inicialmente na Região da Cisplatina, atravessa a fronteira oeste do RS, e, entre outros lugares, arrancha-se na região Central do Estado.

Foram selecionadas as seguintes influências:

 • Na indumentária: a preferência das espanholas pelas cores “fechadas”, o uso de rendarias e babados, o contraste de cores;

• Na poesia: o texto apresenta, através da história de uma moça, a história daqueles que habitam inicialmente o campo e com o passar do tempo optam em mudar-se para a cidade (neste caso, minha história familiar);

• Na música: o principal elemento do conjunto musical são os 3 violões, sendo o violão originário da “guitarra espanhola”;

• Na dança: escolhida, como dança tradicional, a Tirana do Lenço, e para a dança de salão a Milonga Rio-Grandense (estilo “romântico”).

As marcas Espanholas no RS

A Espanha
A nação espanhola vem se consolidar através de sua Monarquia, organizada durante a luta dos cristãos contra muçulmanos árabes que estavam ocupando a península Ibérica. Devido esta e outras circunstâncias, observamos uma região que esteve em contato com diferentes povos, tendo assim, sua formação cultural mesclada em mais de uma influência. Podemos considerar os ciganos como a principal delas, pois darão base a muitas especificidades espanholas, que com os trâmites da história, irão chegar até o Sul do Brasil.

A Dança
O principal ícone da dança espanhola é o Flamenco, que nasce no século XVIII como uma manifestação artística absolutamente popular, resultado da fusão de diversas culturas que atravessaram a região da Andaluzia em períodos anteriores. Os ciganos, habitantes da região, “elaboraram” essa forma de arte, e anexaram a ela a expressão de seus sentimentos, principalmente por serem corriqueiramente perseguidos. A dança era também uma forma de, em segredo, extravasarem seus sentimentos, os de sofrimento e os de felicidade e romantismo igualmente. O uso dos acessórios é comum, como o leque, as castanholas e os lenços (mantón), que demonstram determinação, sedução e também compõem um ritual místico de atração de boas influências e energias.

A Música
A expressão sentimental da música espanhola tem grande relação com o desenvolvimento da dança Flamenca. O instrumento mais conhecido é a “guitarra”, sendo que a guitarra de flamenco se desenvolveu a partir dos instrumentos de cordas originários da própria Espanha.

A Indumentária
O gosto das Espanholas sempre foi bem evidente em suas vestimentas. Os babados, as rendas, o choque de cores e algumas estampas sempre fizeram parte do imaginário. Segundo Úrsula Carvalho Silva, “esse país (Espanha) sempre manteve certo rigor em sua indumentária pela tradição cultural e religiosa, e com sua ascensão econômica, passou a influenciar outros paises”. Na Idade Moderna, a moda era influenciadora além do gênero, servia tanto para homens quanto mulheres. No caso do século XVI, os soldados espanhóis chamados Lansquenets valiam-se da mistura intensa de cores e tecidos, forros bordados a mostra e o uso de fitas, que, entre outros elementos, se popularizaram e se difundiram em sua região. Sendo uma das nações mais prósperas da Europa do século XVI, a Espanha passa a servir como base de moda em diversas localidades. Na moda européia do século XVIII as cores eram predominadas pelo vermelho-escarlate, vermelho-cereja, azul escuro, mas também se viam os claros como rosa, azul-céu e amarelo-pálido. Ainda, segundo a autora, “para as mulheres foram usadas muitas flores, nas roupas e nos cabelos, tanto naturais quanto artificiais. (...) Os vestidos (...) eram finalizados por babados, rendas e laços de fita. Os boleros, jabôs e saliências estilo “fofo” nas mangas, foram inspiradas nos toureiros. Recebem novo acabamento e compõem a moda feminina ainda no século XVII. Influência no Rio Grande do Sul Segundo a folclorista Lilian Argentina, estudar a influência espanhola é repisar “a própria história da formação e povoamento da terra rio-grandense” .

Sabe-se que nenhuma cultura estrangeira foi absorvida integralmente no RS, porém podemos observar inúmeros reflexos de distintas etnias na formação cultural gaúcha. Atravessando a atual fronteira oeste do Rio Grande do Sul, os espanhóis adentraram a região gaúcha e se arrancharam em diversas localidades. Se inicialmente se localizaram no oeste, em pouco tempo se espalharam em diversos locais da região, tanto que inúmeros conflitos foram travados entre as Coroas Portuguesa e Espanhola entre os séculos XVII e XVIII pela posse do território. Santa Maria sempre foi conhecida como “região de passagem”, o centro do Rio Grande do Sul. Transitaram na depressão central gaúcha os mais diversos povos em seus distintos momentos históricos e em suas concepções culturais distintas igualmente. Os espanhóis foram a primeira etnia estrangeira a cruzar pelo atual território de Santa Maria, o que é amplamente afirmado por Júlio Quevedo, que diz No século XVII, antes da região de Santa Maria ser colonizada efetivamente pelos luso-brasileiros, ela foi conquistada por súditos da Coroa de Espanha, em consonância com o Tratado de Tordesilhas. No mesmo trabalho, o autor ainda nos permite observar os motivos que levam às análises sobre as influências espanholas ficarem geralmente em segundo plano, o que nos alerta ao seu necessário resgate. Diz Júlio Quevedo: "na medida em que os conquistadores luso-brasileiros foram incorporando esta região à América Portuguesa, a partir de seus diversos acampamentos militares, foram meticulosamente construindo uma história que nega os diversos vestígios da dominação da Coroa de Espanha no local. Desta forma, valorizar a cultura espanhola nos remete à preservação dos valores daqueles que inicialmente formaram o Rio Grande do Sul (inclusa a Região Central). Essa missão é gratificante, pois é inevitável render-se às rendas, às cores, ao linguajar, à força e todos os encantos e os fascínios espanhóis."



Últimas considerações do dia de hoje, 3 de agosto de 2012:

Meus caros, não somos colonizados apenas por portugueses mesmo. Os espanhóis chegaram aqui bem antes, era deles a posse do território conforme o Tratado de
Tordesilhas, em 1494. As reduções e as Míssões são ótimos exemplos disso. Foram os Jesuítas da Coroa de Espanha que procederam o proceso de conquista do território que hoje conhecemos por Rio Grande do Sul. Eu, por exemplo, sou de descencência espanhola (VALENZUELA). O RS que foi pintado de lusitano integralmente (pois o litoral, o leste o é, de fato) foi uma adaptação muito bem organizada pelo IHGB na produção da identidade e do sentimento nacional, onde, com o Brasil com limites territorias definidos, incluindo o RS (que só se tornou parte do Brasil efetivamente RECÉM no século XIX), precisava organizar um Estado Nacional que se identificasse com seu próprio governo. Se existe uma pilcha legítimo do Gaúcho Brasileiro, eu desconheço. Conheço
a indumentária que o Movimento institucionalizou, e a uso nos eventos tradicionlaistas do MTG pois esta é a norma. Porém, muitas coisas estão equivocadas na construção da indumentária e na idéia de identidade que nosso Movimento construiu. Não somos lusitanos. Eu sou Gaúcha, eu sou Brasileira tb, assim como a maioria dos tradicionalistas do RS. Mas minha origem não é Portuguesa. Se for assim, nem o Serrano pode usar a pilcha do gaúcho brasileiro, pois são parte da história do RS sim e já estudei bastante pra saber que eles não usavam bombacha. Se a cultura dos imigrantes não faz do RS, então nada faz, apenas a cultura indígena. A história platina, a história missioneira, a história do litoral e da serra, tudo tem a ver com minha cultura sem sombra de dúvida. Ao mesmo tempo, muito se foi inventado e dito "mas isso é castelhano" e não é nem castelhano e nem nada, é modinha. Muito modismo foi de fato, inventado, e apelidade de castelhano, e não são. Porém, aquilo que é de fato, castelhano, é a base da nossa gênese. Se a influência espanhola tiver que ser desconsiderada, queimemos todos os violões, deletem todas as milongas, retirem do manual de danças a Tirana do Lenço... "No século XVII, antes da região de Santa Maria ser colonizada efetivamente pelos luso-brasileiros, ela foi conquistada por súditos da Coroa de Espanha, em consonância com o Tratado de Tordesilhas [...]. Na medida em que os conquistadores luso-brasileiros foram incorporando esta região à América Portuguesa, a partir de seus diversos acampamentos militares, foram meticulosamente construindo uma história que nega os diversos vestígios da dominação da Coroa de Espanha no local." QUEVEDO, Júlio. As origens missioneiras de Santa Maria. In WEBER, Beatriz. RIBEIRO, José Iran. (Orgs). Nova História de Santa Maria. Santa Maria, RS: Ed. Palotti, 2010.

 

7 comentários:

  1. Querida Tainá Valenzuela,
    Olá, chamo-me Manuel e escrivo-lhe dende a Galiza, em Espanha. Muito interesante o seu artigo titulado "As marcas espanholas no Río Grande do Sul".
    É certo que a regiao sul do Brasil pertenceu á Espanha até a sinatura do Tratado de San Ildefonso em 1777 pelo qual Espanha cedia os territorios do Río Grande, Santa Catarina e Paraná ós portugueses.
    Se bem a presencia política de Espanha desapareceu para sempre com aquele Tratado, uma rica herança espanhola permaneceu até os nossos días, reflejada na cultura gaúcha do sul do Brasil.
    O dialeto local de Río Grande do Sul é um espanhol arcaico misturado com elementos aborigems e voces portuguesas e africanas. Ainda hoje fican falantes de aquele dialeto a pesares de que a lingua oficial tornou-se em portugues e nas escolas se estude o espanhol normaliçado.
    A religiao catolica maioritaria desta regiao sul debe-se ao travalho cristianiçador dos misioneiros jesuitas espanhois. Fican sete misioes espanholas no Río Grande do Sul: San Miguel de las Misiones, San Francisco de Borja, San Nicolás, San Luis Gonzaga, San Lorenzo Mártir, San Juan Bautista e Santo Ángel Guardián de las Misiones.
    Étnicamente os gaúchos brasileiros sao mestiços de espanhois, portugueses e indios ainda que em principio nesta área do Brasil a mistura foi entre espanhol e indio e posteriormente engadiu-se o portugues.
    E que dizer da tradiçao musical sul-brasileira? ? ? Aindo hoje se possen atopar gaúchos nativistas cantando em espanhol ou dançando a milonga ou a tirana do lenço de evidente origen argentino e espanhol
    Indiscutivelmente, a regiao sul do Brasil posue uma rica influencia espanhola pertencente ja para sempre ao patrimonio historico e cultural dos gaúchos e que deveria dar-se mais a conhecer e por-se em valor.

    Saúdos Tainá!!! e disculpe meu idioma portugues brasileiro...

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  2. Encontrei algumas cançoes gaúcho-brasileiras nativistas em espanhol: "Kilometro 11", "Los hermanos", "Merceditas", "Mi viejo", "A Villa Guillermina", "Zamba de mi esperanza", "Balada para un loco", "La López Pereyra", "Ando por la huella", "Por una cabeza", "Alfonsina y el mar", "Adiós Pampa mía"...

    Saúdos!!!

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  3. Así como el dialecto "gaúcho" del sur de Brasil es una mezcla de vocablos españoles arcaicos, portugueses e indígenas fundamentalmente, ¿sabían que un estudio genético realizado en Sao Paulo ha revelado que los "gaúchos" son una mezcla biológica de españoles e indios y no portugueses y africanos como el resto de los brasileños ? ? ? Saludos al Río Grande, Santa Catarina y Paraná...

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  4. En Río Grande del Sur podemos encontrarnos con intensas influencias españolas también en la gastronomía. El estado gaúcho destaca por sus carnes asadas a la parrilla, mejor conocidas como churrasco. Una infusión llamada mate también es muy popular.
    En el siglo XVII, esta parte de Brasil, dominada por los españoles, era ocupada por millares de cabezas de ganado salvaje, oriundas de Buenos Aires y de otras áreas de Argentina. El gobierno español autorizaba las "vacarías", matanzas de ganado para obtención de cuero y sebo. Durante las famosas "vacarías", los vaqueros españoles, después de haber corrido, cercado y matado a los bueyes, cortaban los pedazos de carne más fáciles de partir y los asaban enteros en un agujero abierto en el suelo, condimentándolo con la propia ceniza del brasero. Esto es considerado el origen más remoto del churrasco en Río Grande del Sur.
    En cuanto al origen del uso de la hierba mate, alimento básico de los indios guaraníes y conocida por éstos como CAA-MATE (caá: planta o hierba, mate: calabaza usada para beber) es indudable que de los indios aprendieron su uso los conquistadores españoles. En Río Grande del Sur, los vaqueros españoles nómadas por naturaleza, con nostalgia de casa y lejos de sus familias, estaban acostumbrados a grandes borracheras que duraban toda la noche. A la mañana siguiente, los vaqueros observaban que tomando la extraña hierba-mate utilizada por los indios la resaca desaparecía y el trabajo se llevaba mejor.

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  5. Estou totalmente de acordo com as palavras do professor Pedro Teixeira: "O dialeto do gaúcho é uma mistura fina do espanhol, portugués com as línguas dos índios minuanos, charrúas e guenoas, que nada ten que ver com os dialetos trazidos para o Rio Grande do Sul pelos alemaes e italianos, que sao rio-grandenses, mas nao sao gaúchos".

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  6. Tainá,adorei tua pesquisa,gostaria se possível que me envia-se inteira,pois estou começando um grupo musical folclórico um pouco diferenciado,exatamento exaltando a mistura da cultura espanhola com todo o resto que compõem nosso folclore hoje,propriamente dito e muitas vezes não aceito por historiadores,que por questões politicas da época e atuais,preferem não admitir essa influência,também descendo de espanhóis, e gostaria de ter td sua pesquisa,para que possa enriquecer meus conhecimentos com seu trabalho,parabéns!

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