segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

DTG Noel Guarany - Lagoa Vermelha

Levando-se em conta a forma como nossa não-participação no Rodeio de Lagoa Vermelha repercutiu, escrevi este texto no face ontem para esclarecer algumas coisas. 

Nós, do DTG Noel Guarany, retomamos nossas atividades no início deste mês. Estávamos entre a ida para Guaporé ou Lagoa Vermelha. Optamos por Lagoa. 

Na 6ª feira, nosso transporte quase foi cancelado, e a ideia que tivemos nas semanas antes de comemorarmos meu aniversário (que é hoje) na Kiss, no sábado, voltou a ser uma opção, caso não viajássemos. Mas o objetivo era viajar, mais que tudo.

O Luciano e o Ivan, nossos diretores artísticos, não mediram esforços para que o grupo firmasse seu objetivo e fosse à Lagoa. Era o que eu preferia também, e queria muito. Cheguei dizer que "não ir" nem era uma opção, a gente iria dar um jeito. O aniversário podia esperar, por mim, tudo bem. Passar a véspera dele fazendo o que eu mais amo - dançar - não faria com que evitar a saída no sábado fosse um transtorno.

Marcamos a saída de Santa Maria para as 6h, no campus da UFSM. No face e nas rádios, o ocorrido já estava sendo anunciado, mas as proporções eram infimamente menores. Uma de nossas prendas, a guerreira da Keyla, desistiu da viagem pois a menina que morava com ela tinha ido pra lá, não tinha voltado e não conseguia contato. Não imaginávamos que algo ruim, de fato, tivesse ocorrido. Notícia ruim chega rápido e, sabendo naquele momento que eram poucas vítimas fatais, acreditei que ela não estaria ali.

No transcorrer da viagem as notícias foram se avolumando... De 12 mortos, eram 30. De 30 eram 100 e em seguida já eram 200. A angústia tomou conta de nós pois era evidente que, em uma cidade como Santa Maria, em uma festa de estudantes do CCR - O Centro em que o DTG se aloja -, teríamos pessoas queridas lá.

Chegamos em Lagoa e nosso caro instrutor, Sandro Nicoloso, já havia organizado para que nossa ordem de apresentação ficasse pra o início da tarde (seria de manhã). Ele chegou antes em Lagoa, com alguns integrantes do grupo e com nosso musical, que tiveram que ir em outro transporte (os ônibus a UFSM só podem levar acadêmicos). Acabamos atrasando nossa saída de SM. Tanto os organizadores do evento quanto os instrutores dos outros grupos, não hesitaram em nos permitir a troca, foram cordiais e solidários.

Mas ali já não tínhamos mais condições... A agonia pela espera de notícia, a notícia de perdas confirmadas (inclusive da menina que morava com a Keyla), o tamanho absurdo da tragédia que vestiu nossa querida Santa Maria de luto não nos deixaria levar a alegria da dança para o palco. Ficamos em choque. Nós e todos.

Reuni os coordenadores e o instrutor e decidimos: Não iríamos dançar. Tanto pelas nossas condições quanto pelo nosso respeito com os acadêmicos da nossa Universidade que se foram, do nosso centro, da nossa cidade. Pelo sentimento tão confuso de alívio por termos optado por Lagoa Vermelha, pela dança, pelo tradicionalismo.

Foi por isso que fomos para o palco. Para explicar o que havia ocorrido. Saibam que não falei do meu aniversário ali, isso as pessoas de lá foram saber depois. Santa Maria acolhe filhos de todo o Rio Grande, o luto era nosso. Fomos explicar o que eram aquelas notícias que estavam correndo. Fomos pedir a solidariedade. E fomos dizer OBRIGADO para Lagoa Vermelha por nos induzir a fazer o que amamos. Por ensaiarmos até quase meia noite e termos ido pra casa descansar pra viagem. E pedir que olhassem pelas famílias, orassem por elas.

Não sabemos como serão os dias daqui pra frente. Não sabemos como a cidade segue, muito menos a UFSM. Não sabemos o que falta sabermos, nem como lidar com isso tudo.

Perdemos ali nosso Guarany Dartagnan, que não podia ir pra Lagoa já que tinha festa promovida por pessoas importantes dele. Mas imaginar a ausência dele ainda é impossível. Ainda é inacreditável... Perdi o Matheus Brondani, peão querido do nosso Adaga Velha Ctg que não consegue mais suportar essas feridas. Eu não consigo acreditar.

A cidade está caótica, ambulâncias, carros da polícia, carros e carros. A tristeza e o medo, a revolta pela forma estúpida com que tudo aconteceu. Com as pessoas que ficaram ali, entre um sorriso e, agora, uma saudade. Existe um silêncio, uma dor imensa, quase insuportável.

Inevitável pensar que, tivéssemos cancelado o ônibus ou tivéssemos ido pra Guaporé na semana antes, estaríamos ali.


Inevitável saber quantos Guaranys iam ali frequentemente, Marcos, Junior de Souza, Bruno, Vini Avilla, Keyla... E agora ficamos sabendo que a Sibele, que dançou conosco ano passado, estava lá e conseguiu sair. 


Mas naquela noite, estavam em casa, esperando a manhã em que embarcaríamos pra fazer o que gostamos de fazer e que estamos lutando pra fazer melhor. Não estavam estes lá, nem eu, nem os demais. Mas a cabeça não permite que a gente dissocie esta possibilidade imediatamente.

E eu, aqui, de aniversário. Nesse sentimento de alívio e de dor.
Nos cabe celebrar a vida, repensa-la.
Entender eu duvido, aceitar também. É surreal...
É aprender a conviver com isso.
Ver como as coisas se dão.

Não fosse nosso gosto pelo tradicionalismo, nossa opção pelos ensaios de janeiro, nosso amor pelo DTG, sabe-se lá desta história.

O coração do Rio Grande sangra... O Rio Grande também.
Pra gente ainda em choque, é esperar que o tempo cure essas feridas.
E virou notícia, é o país, é o mundo inteiro vendo aquilo que acontece volta e meia mas... Aqui? Com os nossos? É sério isso?

Não nos apresentar foi reflexo do nosso sentimento e talvez nada além da nossa obrigação.

Agradeço aos que entenderam nossa atitude.
Contamos com vocês.


P.S.: O post original de onde a repercussão toda veio é neste link:
http://www.facebook.com/photo.php?fbid=477662118959049&set=a.330362253689037.76866.330121833713079&type=1&relevant_count=1

P.S².: Aqui embaixo vocês podem encontrar "reações". Elas são automáticas nas postagens do blog, não é meu interesse que vocês assinalem elas. Me entendam, o post não é para eu ver a "reação" de vocês, é que o link ali entra automático. Não se preocupem em assinalar, apenas, claro, se vocês acharem que é conveniente. Obrigada.