Dois trechos do Saint-Hilaire sobre os bailes, que eu acho bem interessantes!!!!
Um se passa em Rio Grande e o outro em Montevidéu!
Quem quiser fazer o download do "Viagem ao Rio Grande do Sul" , acho que neste link vai!
http://www.4shared.com/document/qLBfJw5F/Auguste_de_Saint-Hilaire__Viag.html
Página 92:
RIO GRANDE, 13 de agosto. – O Sargento-Mor Mateus da
Cunha Teles, em cuja casa nos alojamos, havia convidado o conde para
um baile, tendo mandado para isso preparar uma grande casa vizinha,
ainda não habitada. Para lá nos dirigimos às dezenove horas, onde
encontramos cerca de sessenta senhoras, reunidas em um salão forrado
a papel francês. Todas muito bem trajadas; usavam vestidos de seda branca, sapatos e meias de seda;
jovens e velhas, traziam a cabeça descober ta, os cabelos armados por uma travessa e
en feitados com flores artificiais.
Estavam sentadas ao redor do salão, em cadeiras colocadas umas
diante das outras. Os homens, em muito menor número, conservavam-se de pé.
Todos os oficiais rigorosamente fardados, de calças e
botas; os civis trajavam fraque, camisa com jabô de renda, colete branco,
geralmente de seda, meias de sede brancas, sapatos com fivela, finalmente
calça branca de seda ou de casimira
Os oficiais traziam à cintura esses espadins, de um pé a um pé
e meio de comprimento, usados pelos portugueses e pelos oficiais da
marinha inglesa, tendo à mão um chapéu de três bicos. Vários padres,
entre eles o cura da paróquia, assistiram ao baile, e um deles fazia parte
da orquestra; todos estavam de batina. O baile começou poucos instantes
após a che gada do conde, mas nunca vi coisa tão monótona. Era preciso,
por assim dizer, obrigar os homens a tirar as senhoras para dançar e, à
exceção do conde, nenhum cavalheiro lhes dirigia a pa lavra. Dançaram-se
“inglesas” e valsas. Entre os portugueses, esta última dança não é
executada com tanta rapidez como na Alemanha e na França; aqueles
fazem, na valsa, um grande número de posições, algumas vezes muito
voluptuosas. Uma jovem dançou um solo, mas, embora reconhecendo
sua graciosidade, não pude deixar de lamentar que uma mãe honesta expusesse
sua filha aos olhares de todos. Não tendo com quem conversar
e achando-me francamente aborrecido, resolvi retirar-me logo que
começou a ceia.
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MONTEVIDÉU, 4 de novembro. – Era hoje o aniversário do
General Lecor. O cabildo ofereceu um baile em sua honra. O general
tinha-me feito o convite ontem por meio do cavaleiro del Host, e hoje
fui ao seu palácio à hora marcada. Encontrei os principais oficiais do
estado-maior e, entre outros, os que me foram apresentados anteontem,
reunidos numa grande sala.
O cavaleiro apresentou-me aos que eu ainda não conhecia,
dentre eles o Coronel Manuel Marques, filho do tenente-general que vi
em Rio Grande. O general entrou e desfez-se em atenções para comigo.
Em seguida, fez sentar-me ao seu lado num sofá, e falamos muito sobre
minhas viagens. Passamos à sala de jantar, onde me colocou à sua direita,
desfazendo-se em amabilidades durante todo o jantar, ocasião em que
me prometeu dar um guia para acompanhar-me no resto de minha viagem.
Após o jantar, perguntou-me se queria ir ao espetáculo. Aceitei
e colocou-me a seu lado no camarote, contíguo ao palco. A sala, bastante
grande, teto não estucado, desprovida de ornamento, apresenta somente
três filas de camarotes, contando as dos andares superiores. Os homens
sentam-se em bancos na platéia; o teatro é pequeno e as decorações, feias.
Representaram duas peças, uma tragédia e uma pequena comédia. Não
se podia dizer que os atores, pelo menos os principais, sejam péssimos,
mas não passam de medíocres. Na tragédia, onde o herói era Viriato, todos
os artistas vestiam a antiga roupa espanhola. Não pude compreender a
peça, porque meus vizinhos falavam continuamente comigo. Acompanhei
melhor a comédia, cujo enredo é o seguinte: um homem tinha a mania
de procurar tesouros, e um de seus amigos quis ver se o curava. Penetra-lhe
no íntimo e lhe faz crer que ele é mágico, que tem comércio com os
demônios e que o tesouro tão desejado pode ser descoberto por estes
meios. Faz-se passar o herói por uma série de mistificações; ao fim da
última, seu marido e sua mulher aparecem numa nuvem e lhe dizem que
uma boa mulher e um amigo sincero são o único tesouro digno de inveja.
Vê-se em tudo isso que não há nada de intriga, nem cômico, nem espirituoso.
Durante todo o espetáculo, os assistentes não manifestaram o
mínimo sinal de aprovação e, segundo me dizem eles, ficam sempre
apáticos.
Depois do espetáculo, fomos ao baile realizado numa grande
sala da Casa do Cabildo, paço da Câmara Municipal. Não tinha o mínimo
ornamento, mas surpreendi-me de ver, numa das extremidades, o retrato
do rei de Portugal, abaixo do qual se achavam cetros cruzados sobre
uma almofada de veludo. Os homens estavam de pé e as mulheres, sentadas
em banquetes. Estas muito bem vestidas e, entre elas, grande número de
moças muito bonitas, de boas maneiras e delicadas, que não pude deixar
de admirar. Não creio que na França, numa cidade de população semelhante,
pudesse realizar-se uma reunião de senhoras tão distintas. As de
Montevidéu não têm, evidentemente, a graça e a vivacidade das francesas,
porém tal vez mais elegantes em suas maneiras. Quanto aos homens,
repito o que já disse sobre sua apatia.
Todas as qualidades de refrigerantes eram oferecidas prontamente a
quem os solicitasse. Mas, se no Rio Grande havia, em todos os
bares, uma mesa ser vida com profusão exagerada, podemos convir que
a mesa aqui do baile do cabildo de Montevidéu fazia pouca honra à sua
generosidade. Poder-se-ia pensar que se destinasse a uma meia dú zia de
meninos. Depois de ter passado algumas horas nesta reunião, saí e fui
dormir em casa do Sr. Ca vailler.
É isso!!!!
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