Ah, e obrigada à todos que sempre me disseram que esta prova marcou aquela Ciranda! Isso vale muito! Beijos, Tainá.
Apresentação Para a prova Artística da 40ª Ciranda Cultural de Prendas – Fase Estadual, a temática escolhida fora “As marcas espanholas no Rio Grande do Sul” pelas seguintes razões:
• Ser uma influência cultural no RS de forma bastante expressiva;
• Revitalizar a influência espanhola, por serem justamente os espanhóis a primeira etnia estrangeira em Santa Maria e ter aqui um de seus abrigos.
• Usar esta influência como uma das marcas da multicultural região de Santa Maria, receptora de distintas fontes de cultura, aqui mescladas e produzidas.
• Ter tido um contorno histórico similar ao de minha família Valenzuela, ou seja, originária da Espanha, vêm para a América pelo Rio da Prata e se aloja inicialmente na Região da Cisplatina, atravessa a fronteira oeste do RS, e, entre outros lugares, arrancha-se na região Central do Estado.
Foram selecionadas as seguintes influências:
• Na indumentária: a preferência das espanholas pelas cores “fechadas”, o uso de rendarias e babados, o contraste de cores;
• Na poesia: o texto apresenta, através da história de uma moça, a história daqueles que habitam inicialmente o campo e com o passar do tempo optam em mudar-se para a cidade (neste caso, minha história familiar);
• Na música: o principal elemento do conjunto musical são os 3 violões, sendo o violão originário da “guitarra espanhola”;
• Na dança: escolhida, como dança tradicional, a Tirana do Lenço, e para a dança de salão a Milonga Rio-Grandense (estilo “romântico”).
As marcas Espanholas no RS
A Espanha
A nação espanhola vem se consolidar através de sua Monarquia, organizada durante a luta dos cristãos contra muçulmanos árabes que estavam ocupando a península Ibérica. Devido esta e outras circunstâncias, observamos uma região que esteve em contato com diferentes povos, tendo assim, sua formação cultural mesclada em mais de uma influência. Podemos considerar os ciganos como a principal delas, pois darão base a muitas especificidades espanholas, que com os trâmites da história, irão chegar até o Sul do Brasil.
A Dança
O principal ícone da dança espanhola é o Flamenco, que nasce no século XVIII como uma manifestação artística absolutamente popular, resultado da fusão de diversas culturas que atravessaram a região da Andaluzia em períodos anteriores. Os ciganos, habitantes da região, “elaboraram” essa forma de arte, e anexaram a ela a expressão de seus sentimentos, principalmente por serem corriqueiramente perseguidos. A dança era também uma forma de, em segredo, extravasarem seus sentimentos, os de sofrimento e os de felicidade e romantismo igualmente. O uso dos acessórios é comum, como o leque, as castanholas e os lenços (mantón), que demonstram determinação, sedução e também compõem um ritual místico de atração de boas influências e energias.
A Música
A expressão sentimental da música espanhola tem grande relação com o desenvolvimento da dança Flamenca. O instrumento mais conhecido é a “guitarra”, sendo que a guitarra de flamenco se desenvolveu a partir dos instrumentos de cordas originários da própria Espanha.
A Indumentária
O gosto das Espanholas sempre foi bem evidente em suas vestimentas. Os babados, as rendas, o choque de cores e algumas estampas sempre fizeram parte do imaginário. Segundo Úrsula Carvalho Silva, “esse país (Espanha) sempre manteve certo rigor em sua indumentária pela tradição cultural e religiosa, e com sua ascensão econômica, passou a influenciar outros paises”. Na Idade Moderna, a moda era influenciadora além do gênero, servia tanto para homens quanto mulheres. No caso do século XVI, os soldados espanhóis chamados Lansquenets valiam-se da mistura intensa de cores e tecidos, forros bordados a mostra e o uso de fitas, que, entre outros elementos, se popularizaram e se difundiram em sua região. Sendo uma das nações mais prósperas da Europa do século XVI, a Espanha passa a servir como base de moda em diversas localidades. Na moda européia do século XVIII as cores eram predominadas pelo vermelho-escarlate, vermelho-cereja, azul escuro, mas também se viam os claros como rosa, azul-céu e amarelo-pálido. Ainda, segundo a autora, “para as mulheres foram usadas muitas flores, nas roupas e nos cabelos, tanto naturais quanto artificiais. (...) Os vestidos (...) eram finalizados por babados, rendas e laços de fita. Os boleros, jabôs e saliências estilo “fofo” nas mangas, foram inspiradas nos toureiros. Recebem novo acabamento e compõem a moda feminina ainda no século XVII. Influência no Rio Grande do Sul Segundo a folclorista Lilian Argentina, estudar a influência espanhola é repisar “a própria história da formação e povoamento da terra rio-grandense” .
Sabe-se que nenhuma cultura estrangeira foi absorvida integralmente no RS, porém podemos observar inúmeros reflexos de distintas etnias na formação cultural gaúcha. Atravessando a atual fronteira oeste do Rio Grande do Sul, os espanhóis adentraram a região gaúcha e se arrancharam em diversas localidades. Se inicialmente se localizaram no oeste, em pouco tempo se espalharam em diversos locais da região, tanto que inúmeros conflitos foram travados entre as Coroas Portuguesa e Espanhola entre os séculos XVII e XVIII pela posse do território. Santa Maria sempre foi conhecida como “região de passagem”, o centro do Rio Grande do Sul. Transitaram na depressão central gaúcha os mais diversos povos em seus distintos momentos históricos e em suas concepções culturais distintas igualmente. Os espanhóis foram a primeira etnia estrangeira a cruzar pelo atual território de Santa Maria, o que é amplamente afirmado por Júlio Quevedo, que diz No século XVII, antes da região de Santa Maria ser colonizada efetivamente pelos luso-brasileiros, ela foi conquistada por súditos da Coroa de Espanha, em consonância com o Tratado de Tordesilhas. No mesmo trabalho, o autor ainda nos permite observar os motivos que levam às análises sobre as influências espanholas ficarem geralmente em segundo plano, o que nos alerta ao seu necessário resgate. Diz Júlio Quevedo: "na medida em que os conquistadores luso-brasileiros foram incorporando esta região à América Portuguesa, a partir de seus diversos acampamentos militares, foram meticulosamente construindo uma história que nega os diversos vestígios da dominação da Coroa de Espanha no local. Desta forma, valorizar a cultura espanhola nos remete à preservação dos valores daqueles que inicialmente formaram o Rio Grande do Sul (inclusa a Região Central). Essa missão é gratificante, pois é inevitável render-se às rendas, às cores, ao linguajar, à força e todos os encantos e os fascínios espanhóis."
Últimas considerações do dia de hoje, 3 de agosto de 2012:
a
indumentária que o Movimento institucionalizou, e a uso nos eventos
tradicionlaistas do MTG pois esta é a norma. Porém, muitas coisas estão
equivocadas na construção da indumentária e na idéia de identidade que
nosso Movimento construiu. Não somos lusitanos. Eu sou Gaúcha, eu sou
Brasileira tb, assim como a maioria dos tradicionalistas do RS. Mas
minha origem não é Portuguesa. Se for assim, nem o Serrano pode usar a
pilcha do gaúcho brasileiro, pois são parte da história do RS sim e já
estudei bastante pra saber que eles não usavam bombacha. Se a cultura
dos imigrantes não faz do RS, então nada faz, apenas a cultura indígena.
A história platina, a história missioneira, a história do litoral e da
serra, tudo tem a ver com minha cultura sem sombra de dúvida. Ao mesmo
tempo, muito se foi inventado e dito "mas isso é castelhano" e não é nem
castelhano e nem nada, é modinha. Muito modismo foi de fato, inventado,
e apelidade de castelhano, e não são. Porém, aquilo que é de fato,
castelhano, é a base da nossa gênese. Se a influência espanhola tiver
que ser desconsiderada, queimemos todos os violões, deletem todas as
milongas, retirem do manual de danças a Tirana do Lenço... "No século
XVII, antes da região de Santa Maria ser colonizada efetivamente pelos
luso-brasileiros, ela foi conquistada por súditos da Coroa de Espanha,
em consonância com o Tratado de Tordesilhas [...]. Na medida em que os
conquistadores luso-brasileiros foram incorporando esta região à América
Portuguesa, a partir de seus diversos acampamentos militares, foram
meticulosamente construindo uma história que nega os diversos vestígios
da dominação da Coroa de Espanha no local." QUEVEDO, Júlio. As origens
missioneiras de Santa Maria. In WEBER, Beatriz. RIBEIRO, José Iran.
(Orgs). Nova História de Santa Maria. Santa Maria, RS: Ed. Palotti,
2010.